Um estudo pioneiro sobre o tratamento dos Resíduos Sólidos Municipais (RSM) do Algarve, promovido pelo CICEE - Centro de Investigação em Ciências Económicas e Empresariais, em parceria com a Universidade do Algarve e com o apoio da Algar, empresa do grupo EGF, destaca os desafios que o turismo tem na gestão de resíduos nesta região.
Reunindo investigadores de 5 instituições universitárias de Portugal e dos Estados Unidos, o estudo “As implicações da atividade turística na região do Algarve para a gestão de Resíduos Urbanos” revela a necessidade urgente de definir soluções sustentáveis para enfrentar o impacto ambiental e económico causados pela elevada sazonalidade turística nesta região do país.
Conclui que em 2023 o Algarve registou 29 milhões de dormidas, das quais 82% ocorreram na época alta o que gerou uma pressão significativa nos serviços de gestão de resíduos. Durante o mês de agosto, o turismo foi responsável por 41% da produção de resíduos, equivalente a 3,6 kg por pernoita, ou seja, mais do que o dobro da produção per capita dos residentes locais.
A produção de resíduos na época alta tem também impacto económico, uma vez que o custo total de gestão de resíduos foi de 81,3 milhões de euros em 2023, com custos médios significativamente superiores na época alta, chegando a 436 €/tonelada para resíduos indiferenciados, comparados aos 147 €/tonelada na época baixa.
Analisando também o desempenho na gestão de resíduos, o estudo revela que atualmente mais de 80% dos resíduos municipais do Algarve são depositados em aterros, enquanto as taxas de reciclagem e reutilização ficam abaixo de 15%, dado que estão muito abaixo das metas definidas pela União Europeia para 2035 (que indicam 65% de reciclagem e reutilização e um máximo de 10% para aterros a nível nacional).
Para dar resposta ao impacto e desafios da gestão de resíduos no Algarve em época alta, o estudo do CICEE identificou a necessidade de implementar medidas, que também visam cumprir as metas definidas pela União Europeia e promover uma economia circular e práticas sustentáveis para a região:
Numa primeira fase, passa pela caraterizar da relação entre o turismo e a gestão de resíduos, analisado a produção de resíduos sólidos municipais pelo turismo, diferenciando fontes e tipos de resíduos, desenvolvendo modelos estatísticos e económicos para estimar custos associados à sua gestão e avaliando as tarifas diferenciadas e alternativas de financiamento, como tarifas, impostos turísticos e outras opções que possam financiar práticas sustentáveis de gestão de resíduos.
Numa segunda fase, a implementação de um projeto-piloto, em 2025, para otimizar a gestão de resíduos, como circuitos de recolha dedicados através do envolvimento de stakeholders regionais, como ALGAR, AMAL, ATR, operadores turísticos, hotéis e restaurantes, e o desenvolvimento de indicadores de desempenho ambiental, social e de sustentabilidade para monitorizar o progresso e a adaptação de soluções às necessidades locais.
Numa terceira fase, alargar as medidas testadas com sucesso no projeto-piloto a toda a região do Algarve e promover a sustentabilidade a longo prazo, através da monitorização contínua dos indicadores regionais de recolha de resíduos e o desenvolvimento de indicadores específicos para monitorizar melhorias anuais.
Para o investigador e Professor Eduardo Cardadeiro, coordenador do estudo, “O turismo é fundamental para a economia do Algarve, mas precisamos de assegurar que o seu crescimento não comprometa o desenvolvimento sustentável da região, pelo que o desenvolvimento deste estudo é um passo importante para alinhar as práticas e necessidades locais com as metas ambientais europeias".
O estudo “As implicações da atividade turística na região do Algarve para a gestão de Resíduos Urbanos” foi apresentado hoje, num encontro promovido pela Algar, em Vilamoura.
Estudo promovido pelas entidades:
Sobre a Algar, S.A.
A Algar - Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A., é a empresa responsável, no Algarve, pelo sistema integrado de recolha seletiva, transferência, triagem dos materiais destinados à reciclagem, aproveitamento energético do biogás produzido em aterro sanitário, compostagem de resíduos verdes e o tratamento dos resíduos urbanos depositados em aterro sanitário, produzidos nos Municípios de Albufeira, Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Faro, Lagoa, Lagos, Loulé, Monchique, Olhão, Portimão, São Brás de Alportel, Silves, Tavira, Vila do Bispo e Vila Real de Santo António